sábado, 30 de abril de 2011

Formaçao- Deus é Amor

Deus é amor! Quando lemos o que muitos afirmam ser o versículo mais importante das Sagradas Escrituras, deparamo-nos com três palavras surpreendentes: Deus é amor. Estas palavras de 1Jo 4,16 ecoam nos místicos, nos teólogos, nos nossos corações como palavras mais profundamente libertadoras dos nossos egoísmos, medos, solidões, dúvidas, limites... 

Caem, especialmente, nossos limites humanos: Deus é amor. O amor não tem limites. Vai além de nossa humanidade, de nossa temporalidade, de nossa pequenez. Deus é amor. A medida do amor é Deus. Nada é impossível! Nada é limitado a não ser por nosso egoísmo. É possível amar mais, mais, sempre mais, pois Deus é amor. Deus é a medida do amor e o amor é a identidade mesma de Deus. Deus é eterno e ilimitado. Assim, também, o verdadeiro amor. 

Santo Tomás de Aquino nos ensina mais: Deus é amor em ato! Isso! Deus não é somente amor teórico, bonito, distante, lá no céu, na eternidade. Não, Deus é amor em ato. Por isso, amor verdadeiro, como todo amor que age, que transforma, que participa e se dá. 

E o maior ato de amor de Deus foi, sem dúvida, o seu único Filho, enviando-o para que morresse ao invés de nós. Nós estávamos condenados à destruição da morte eterna. Não havia saída para você e nem para mim. Era, com toda a segurança, viver uma vida infernal para terminar em uma morte eterna e terrível de sofrimentos sem fim, para sempre, para sempre. 

Deus nos entregou Jesus e este sofrimento da perdição eterna, para sempre, para sempre, transformou-se em misericórdia e esperança de felicidades sem limites para sempre, para sempre, pois a nossa morte eterna desapareceu na sua morte e ressurreição, de onde jorram a nossa vida eterna, para sempre, para sempre... 

Deus entregou seu Filho para morrer no nosso lugar. Imenso ato de amor este de um pai que entrega seu filho amado! Mas, há mais amor por aqui. Não somente Deus entregou seu próprio Filho, mas o próprio Filho entregou-se, livremente por amor ao Pai que O precisava entregar, compungido de amor a nós. O filho conhece inteiramente o Pai e o seu coração. Sabia o quanto lhe doía nos ver perdidos para sempre, distantes dele e mergulhados no sofrimento para sempre. Ah, a dor lancinante de quem perde aquele que ama! 

Por amor ao Pai, então, por ler seu coração, o Filho se entrega. Não se apega a sua condição de Deus, mas faz-se homem para submeter-se em tudo ao que o homem estava submisso, exceto o pecado, a fim de que, por amor ao Pai e por amor a nós, pudéssemos estar para sempre com Ele e com o Pai. 



PRIMEIRA LIÇÃO 

É esta a primeira lição de amor que Jesus, o Mestre do Amor, nos dá. Deixa sua felicidade perfeitíssima, eterna, sem mancha, sem dor, sem morte, para não só enfrentar a mancha, a dor, a morte, mas, infinitamente mais que isso, tornar-se pecado (não pecador!), sofrer as dores dos homens, abraçar como homem a morte. 

Jesus ensina a amar, amando. Ele, que é amor em ato, vem nos ensinar a amar em atos, amando, vivendo entre nós. É interessante notarmos que Jesus não nos fala sobre amor (isso o faz São Paulo em 1Cor 13 e, entre outros, Jo em sua primeira carta). Ele nos fala sempre sobre como amar. Para aprender a lição, precisamos mergulhar na sua vida, no seu dia a dia. É o “vinde e vede” que diz a João e André (Jo 1,39), pois não há outra maneira de aprender d’Ele senão, vivendo com Ele, contemplando sua vida, procurando ser um outro Cristo. 

Sua primeira lição, então, é sair de si. Sair de sua felicidade perfeita e mergulhar na nossa lama tornando-se um de nós. Esta lição é a base de todo ato de amor perfeito: esquecer-se inteiramente de si, morrendo (em sentido figurado e literal pelo outro. 

A primeira lição esconde, também, o primeiro segredo: A liberdade. Jesus se fez homem livremente. Ninguém O obrigou, ninguém teve de convencê-lO. Mas compungido por amor ao Pai e aos homens, livremente, saiu de si e veio fazer-se um conosco. 

Primeira lição, primeiro segredo e, principalmente, primeiro fundamento: o amor, além de ser livre, além de ser doação de si, só é realmente amor se for ato de amor a Deus. Claro, ele dirige-se ao homem, mas seu fundamento, sua base, seu impulso e motor é o amor a Deus, o amor ao Pai que impingia Jesus a amar sem limites, sem barreiras, sem medo! 

Uma lição, um segredo, um fundamento, um mistério. E o mistério é: todo aquele que ama, faz-se servo. Todo aquele que ama humilha-se e faz-se servo. É impossível quando nos sentimos superiores a alguém, quem quer que seja. Para amarmos alguém, de fato, precisamos nos fazer servos, os menores, os menos dignos, os que não têm direito algum, exceto o de amar, amar, amar. 

Os orgulhosos não amam, pois, achando-se superiores aos outros, ao fazerem atos de pretenso amor, estão, na realidade, amando a si mesmos. Ao se julgarem superiores aos outros, também afastam-se de Deus, que une sempre o amor à humildade e à humilhação (cf. Jo 13,12-16). Suas pretensas atitudes de amor são, assim, artificiais, farisaicas, pois não amam como Deus ama e o amor é sempre humilde, pequeno, servo, menor. 

Eis-nos agora com quatro características do ato de amor de Fil 2: o esvaziamento de si (kénosis), a liberdade e gratuidade, o amor a Deus como primeira moção, a humilhação voluntária. 

Isto seria suficiente para nos deixar desanimados, não fosse a misericórdia de Deus! No entanto, é necessário contemplarmos outra característica de todas as aulas deste Mestre do Amor: o amor autêntico não tem preconceitos, não faz acepção de pessoas. Para isso, basta vermos a lista dos amados de Jesus. Melhor dizendo: para isso basta vermos a lista dos não amados que Jesus amou. Melhor ainda: para isso basta vermos a lista dos não amados e não amáveis que Jesus escolheu para amar com um amor todo especial, todo terno, todo atencioso. Veja só: 

a) o homem - sim, isso mesmo, o homem. Aquele que o havia desrespeitado e traído no paraíso e que haveria de traí-lo em Judas, em você e em mim, geração após geração. O homem: aquele que trai, que é ingrato, que não O escuta, que não O obedece, que prefere mais o mundo e a si mesmo do que a Ele. Certamente, o homem encabeça a lista dos não amáveis. Quem amaria de boa vontade uma criatura como o homem? 

b) Os pecadores - sem distinção: ladrões, homicidas, usurpadores de impostos, mentirosos, falsos, orgulhosos, avessos à graça de Deus, prostitutas, pecadores públicos. 

c) Os doentes - lista enorme temos aqui: leprosos, cegos, coxos, hemorroíssas, manetas, encurvados, febris e doentes da alma: endemoniados e possessos de todas as idades e tipos. 

d) Os desprezados - outra lista enorme! Paralíticos abandonados há anos em sua imobilidade sem ter quem cuidasse deles, leprosos, romanos, cobradores de impostos, ricos, pobres, crucificados. 

e) Os sofredores - como não citar as dores que compungiram Jesus a agir: a da viúva de Naim, a de Marta e Maria, a do ladrão crucificado, a de Jairo, a de Maria em Caná (dor pequena se comparada às outras, mas não pequena para Jesus que a amava com tanta ternura. Quando alguém que a gente ama sofre, ainda que seja pouco, a dor dele dói mais na gente), a dos noivos de Caná, a de João Batista, a do servo do Centurião... 

f) Os covardes e medrosos - quem venceria, aqui, os próprios “doze”? 

g) As mulheres - naquele tempo, naquela cultura, como a gente sabe, mulher não era para ser amada... 

Chegamos, assim, a um ponto tão caro à vocação Shalom: o amor aos não amáveis. Acima está uma lista parcial dos não amáveis que Jesus não apenas amou, mas escolheu para amar de forma especial. E o interessante é que aqueles que O atraem tanto são exatamente os que nos causam repulsa. Quem, de livre e expontânea vontade, se aproxima de um dos “tipos” da lista acima? 

Jesus nos responde novamente com a vida: aquele que ora! Quem ora, contempla o Amor e é moldado por ele, na oração e na vida. Quem ora, aprende o amor na Fonte da Trindade. Quem ora, conhece a verdade e sabe que nada mais vale a não ser sorver em si o amor do Céu para amar na terra. 

Quem ora assim, não se aproxima dos “tipos da lista acima. Não! Quem ora assim, procura este tipo para... servi-lo, como escravo, como pequenino, como menor. 

VEJA BEM: somente, unicamente, ninguém mais do que um só tipo de pessoa - aquela que ama tanto a Deus e O conhece tão bem pela palavra e oração, que é tão íntima d’Ele, tão amassada pelo sofrimento que pode exclamar com Francisco: “Quem és tu, Senhor, e quem sou eu!” e, por amor de Deus, extasiado com a grandeza do seu Seu Amor visse seu próprio nada e entendesse o segredo deste amor “charitas”, que não se orgulha, mas serve, serve, serve, sai de si, esvazia-se totalmente, generosamente, sem acepções, somente para dar alegria Àquele a quem ama acima de tudo e a quem serve com todo o seu ser. 

Em uma palavra, ama assim quem, na oração, contempla o Amor e se sabe amado por Ele. Ama assim quem sofreu o impacto do amor de Deus e a dor de sua ausência. Quem se deixou esvaziar, empobrecer, por amor. Quem, na verdade, contempla a Deus e a si mesmo em plena luz e entende que ele próprio e tudo o que existe é nada diante deste segredo que é a linguagem da Trindade, dos anjos e santos e que durará para sempre, para sempre, para sempre. É a linguagem do céu, que nunca passará. A linguagem dos pequeninos, dos orantes, dos servos, dos extasiados diante da beleza de Deus, da beleza do Amor. 

O Mestre do Amor ensina-nos, ainda, uma última lição em dois atos. A cruz e a ressurreição. Quem ama, sofre. Veja bem: não se disse “poderá sofrer”, não! Quem ama como Jesus ama, sofre. É natural! A cruz é a expressão maior do amor de Jesus, e também a sua humilhação e sofrimento. Aquele que só amou foi traído, ultrajado, cuspido, espancado, desprezado, mal interpretado, injustiçado e não reagiu, não disse nada. Por amor. Jesus entendia que o amor esconde a dor e que não há como separar os dois, assim como não há como separar o amor da humilhação, do esvaziamento, da oração da liberdade, do próprio Deus, da oração. 

O amor e a morte andam juntos, muito juntos. O amor e a dor, o sofrimento, são uma coisa só. 

Um grande silêncio os esconde, como escondeu Jesus no túmulo. Neste silêncio, como no coração de Maria, é gerada a vida, a ressurreição, que é a vitória final e eterna do que ama por ser amado por Deus, que ama por amor a Deus. 

O Mestre do Amor subiu o calvário e, vencendo a morte com o poder do amor do Pai, ressuscita e sobe ao céu para que entendamos que só quem deseja morrer, como o grão de trigo, como Ele, só esse ressuscitará para cantar com os anjos: “Urbi Charitas, Deus ibi”(*). 
(*) Onde (há) a caridade, Deus aí (é). 
Maria Emmir Nogueira Co-fundadora da Comunidade Shalom

sexta-feira, 29 de abril de 2011





Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo de Juiz de Fora

Quando rezamos o Pai Nosso, suplicamos que “perdoe as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Como é difícil praticar o perdão! Talvez seja porque sempre temos os olhos abertos para julgar o próximo e estejamos sempre prontos a condená-lo.
E o julgamento do homem é terrível. Pe. Antonio Vieira no sermão sobre o Bom Ladrão, diz “Terrível é o julgamento de Deus, porém mais terrível é o julgamento do homem.” E dá a razão: é porque Deus julga pelo que é e o homem julga pelo que lhe parece ser. E naquilo que nos parece ser, abrem-se à nossa mente nossas emoções, rancores e ódio. O perdão fica então difícil. Muitas vezes, para nos justificar perante o Evangelho, dizemos que o concedemos, mas a mágua perdura em nosso coração.
Jesus que conhecia muito bem o coração humano, preceituou: “não julgueis os outros e Deus não vos julgará” (cf. Mt.7,1). Numa expressão belíssima de conteúdo, D. Helder Câmara, numa de suas crônicas, comenta que se passássemos pela terra sem julgar, quando, no fim dos tempos, chegássemos diante do Juiz ficaríamos surpresos ao ouvir:”você não será julgado, porque na terra você não julgou…”
E sobre o perdão. O Evangelho nos ensina que devemos ter o coração aberto. Pedro perguntou ao Mestre quantas vezes devia perdoar ao irmão, se até sete vezes. E Jesus lhe deu a medida que o perdão não tem medida: “Não apenas sete vez, mas até setenta vezes sete vezes” (cf. Mt. 18, 21-22) E, logo a seguir na parábola do empregado cruel que não perdoou o seu companheiro, diz como o Pai Celeste tratará a cada um de nós se não perdoarmos de coração a nosso irmão.
Paulo, na Carta aos Efésios concitando-nos a viver como filhos da luz, na santidade cristã, escreve: “sede bondosos e compassivos uns com os outros, sabendo perdoar uns aos outros como Deus vos perdoou em Cristo” (cf. Ef.4, 32).
Hoje, como se mata por um nada! Não preciso descrever as vinganças, o ódio e a cobiça que as motivam.
Outro dia, conversando com um capitalista, dele ouvi que o neo-liberalismo impôs-nos uma ditadura do dinheiro. Tudo é visto sob esse ângulo. Até instituições de direito que limitam as cobranças pelo decorrer do tempo, tem sido questionadas.
E se observarmos procedimentos policiais para inquéritos sobre ações que envolvem grandes somas de dinheiro, sobretudo público, observamos duas vertentes de atitudes, uma o desvio do dinheiro público e o enriquecimento ilícito de grupos e corporações, com envolvimento até de quem deveria cuidar da observância da lei e da justiça, e outra, a ânsia de que a apuração seja no mesmo momento ostensiva, aos holofotes sofisticados da “mídia” e que, no mesmo ato da apreensão, haja o julgamento popular e a condenação do envolvidos ainda sem a prova.
O dinheiro como valor absoluto de um lado. De um político pego numa dessas ações, ouviu-se o conceito que tinha do dinheiro público, como de um bem de que podia se apropriar; “é público”.
De outro o julgamento humano pelas aparências e, pior, depois não respaldado pela Justiça pela delonga no tempo, senão pela absolvição, o que não ocorre com aquele de surrupia um pão, um vidro de perfume num supermercado.
Não podemos ser contra a ação policial que corretamente faz o seu dever e age com rigor sobretudo com aqueles que tem poder de mandar parar a investigação, ou desviá-la por meios nem sempre lícitos. João Batista pregava aos que devem, por profissão, manter a ordem, os soldados: “não useis de violência com ninguém, não calunieis e contentai-vos com vosso soldo” (cf. Lc. 3,14).
A prática do perdão não exime as ações de justiça, de exigir, pelas vias normais do direito o que é seu e dar a cada um o que lhe compete. Mas, acima de tudo, o cristão tem um norte: a caridade. Sem observarmos este preceito do amor as nossas exigências podem, certamente, estar eivadas dos sentimentos humanos.
Saibamos perdoar uns aos outros como Cristo na cruz perdoou aos seus algozes. Aprendamos a lição do Pai que, na morte de seu Filho nos perdoou. A medida do perdão é o amor. Amemo-nos como Cristo nos amou e assim cumpriremos sua lei.

Deus demonstra seu amor por nós


-   (...) O melhor modo de refletir, este ano, sobre o mistério da Sexta-Feira Santa é saber reler por inteiro a primeira parte da encíclica do Papa, «Deus caritas est». Não podendo fazê-lo aqui, quero ao menos comentar algumas de suas passagens que mais diretamente referem-se ao mistério deste dia. Lemos na encíclica:

      «O olhar fixo no lado trespassado de Cristo, de que fala João, compreende o que serviu de ponto de partida a esta Carta Encíclica: “Deus é amor”. É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar». [5]

      Sim, Deus é amor! Se todas as Bíblias do mundo –foi dito– fossem destruídas por qualquer cataclismo ou furor iconoclasta e nos permanecesse somente uma cópia; e ainda que esta copia fosse assim danificada que só uma página estivesse agora inteira, e ainda que esta página fosse estragada que só uma linha pudesse ser lida agora: se tal linha for a linha da Primeira carta de João onde está escrito «Deus é amor», toda a Bíblia estaria salva, porque tudo está contido lá.

      O amor de Deus é luz, é felicidade, é plenitude de vida. É a torrente que Ezequiel viu sair do templo e que, aonde chega, cura e suscita vida; é a água que sacia toda sede prometida à samaritana. Jesus também repete a nós, como a ela: “Se conhecesses o dom de Deus”. Vivi minha infância em uma casa de campo a poucos metros de uma rede elétrica de alta tensão, mas nós vivíamos às escuras ou à luz de velas. Entre nós e a rede elétrica estava a via férrea, e, com a guerra em marcha, ninguém pensava em superar o pequeno obstáculo. Assim ocorre com o amor de Deus: está ali, ao alcance da mão, capaz de iluminar e aquecer tudo em nossa vida, mas passamos a existência na escuridão e no frio. É o único motivo verdadeiro de tristeza da vida.

      Deus é amor, e a cruz de Cristo nos é a prova suprema, a demonstração histórica. Existem dois modos de manifestar o próprio amor para os demais, dizia um autor do oriente bizantino, Nicolas Cabasilas. O primeiro consiste em fazer o bem à pessoa amada, em dar-lhe presentes; o segundo, muito mais comprometedor, consiste em sofrer por ela. Deus amou-nos no primeiro modo, com amor, isto é, de generosidade, na criação, quando nos encheu de dons, dentro e fora de nós; amou-nos com amor de sofrimento na redenção, quando inventou a própria aniquilação, sofrendo por nós as mais terríveis dores, a fim de convencer-nos de seu amor [6]. Por isso, é sobre a cruz que se deve contemplar agora a verdade de que «Deus é amor».

      A palavra «paixão» tem dois significados: pode indicar um amor veemente, «passional», ou um sofrimento moral. Há uma continuidade entre as duas coisas e a experiência quotidiana mostra quão facilmente de uma se passa à outra. Assim ocorreu também, antes de tudo, com Deus. Há uma paixão --escreveu Orígenes-- que precede à encarnação. É «a paixão de amor» que Deus desde sempre nutre em relação ao gênero humano e que, na plenitude dos tempos, levou-o a vir sobre a terra e padecer por nós. [7]

      Três ordens de grandeza

      A encíclica «Deus caritas est» de 2006 adiciona um novo modo de fazer apologia da fé cristã, talvez o único possível hoje e certamente o mais eficaz. Não contrapõe os valores sobrenaturais aos naturais, o amor divino ao amor humano, o eros ao ágape, mas nos mostra a originária harmonia, sempre a redescobrir e curar por causa do pecado e da fragilidade humana. «O eros --escreve o Papa-- quer-nos elevar “em êxtase” para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos» [8]. O evangelho está, sim, em concorrência com os ideais humanos, mas no sentido literal de que concorre à sua realização: cura-o, eleva-o, protege-o. Não exclui o eros da vida, mas o veneno do egoísmo do eros.

      Existem três ordens de grandeza, disse Pascal em um célebre pensamento [9]. A primeira é a ordem material ou do corpo: nela sobressai quem tem muitos bens, quem é dotado de força atlética ou beleza física. É um valor para não desprezar, mas o mais baixo. Acima dessa há a ordem do gênio e da inteligência, na qual se distinguem os pesadores, os inventores, os cientistas, os artistas, os poetas. Esta é uma ordem de qualidade diversa. Ao gênio não acrescenta e não tolhe nada o ser rico ou pobre, belo ou feio. A deformidade física da própria pessoa não tolhe em nada a beleza do pensamento de Sócrates e da poesia de Leopardi.

      Este valor do gênio é um valor certamente mais alto que o precedente, mas não ainda o supremo. Acima dele há uma outra ordem de grandeza, e é a ordem do amor, da bondade. (Pascal chama de ordem da santidade e da graça). Uma gota de santidade, dizia Gounod, vale mais de um oceano de gênio. Ao santo não acrescenta e não tolhe nada o ser belo ou feio, douto ou iletrado. Sua grandeza é de uma ordem diversa.

      O cristianismo pertence ao terceiro nível. No romance Quo vadis, um pagão pergunta ao apóstolo Pedro recém-chegado a Roma: «Atenas deu-nos a sabedoria, Roma a força; a vossa religião, o que nos oferece? E Pedro responde: o amor! [10] O amor é a coisa mais frágil que existe no mundo; é representado, e o é, como uma criança. Pode-se matar por muito pouco --vimos com horror na Itália nas passadas semanas--, como se pode fazer com uma criança. Sabemos bem no que se tornam o poder e a ciência, a força e o gênio, sem o amor e a bondade…

      Amor que perdoa

      «O eros de Deus pelo homem --prossegue a encíclica-- é ao mesmo tempo totalmente agape. E não só porque é dado de maneira totalmente gratuita, sem mérito algum precedente, mas também porque é amor que perdoa» (n. 10).

      Também esta qualidade refulge no máximo grau no mistério da cruz. «Ninguém tem amor maior que aquele que dá a vida pelos próprios amigos», disse Jesus no cenáculo (Jo 15, 13). Queria exclamar: Sim, existe, ó Cristo, um amor maior que dar a vida pelos próprios amigos. O vosso! Vós não destes a vida por vossos amigos, mas por vossos inimigos! Paulo disse que a duras penas se encontra quem seja disposto a morrer por um justo, mas se encontra. «Por um homem de bem talvez alguém se atreva a morrer; mas a prova de que Deus ama-nos é que Cristo, sendo nós ainda pecadores, morreu por nós»; «Cristo morreu pelos ímpios no tempo estabelecido» (Rm 5,6-8).

      No entanto, não se tarda a descobrir que o contraste é só aparente. A palavra «amigos» em sentido ativo indica aquele que te ama, mas em sentido passivo indica aquele que é amado por ti. Jesus chama Judas de «amigo» (Mt 26, 50), não porque Judas o amasse, mas porque ele o amava! Não há amor maior que dar a própria vida pelos inimigos, considerando-os amigos: eis o sentido da frase de Jesus. Os homens podem ser, ou fazer papel de inimigos de Deus, Deus não poderá jamais ser inimigo do homem. É a terrível vantagem dos filhos sobre os pais (e sobre as mães).

      Devemos refletir em que modo, concretamente, o amor de Cristo sobre a cruz pode ajudar o homem de hoje a encontrar, como diz a encíclica, «o caminho de seu viver e de seu amor». Isso é um amor de misericórdia, que desculpa e perdoa, que não quer destruir o inimigo, mas, no caso, a inimizade (cf. Ef 2, 16). Jeremias, o mais próximo entre os homens do Cristo da Paixão, pede a Deus dizendo: «Eu verei a tua vingança contra eles» (Jr 11, 20); Jesus morre dizendo: «Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).

      É justamente desta misericórdia e capacidade de perdão que temos necessidade hoje, para não deslizar sempre mais no abismo de uma violência globalizada. O Apóstolo escrevia aos Colossenses: «Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos (ao pé da letra: de vísceras!) de compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos mutuamente, se alguém tem motivo de queixa contra o outro; como o Senhor vos perdoou, assim também fazei vós» (Col 3, 12-13).

      Ter misericórdia significa apiedar-se (misereor) no coração (cordis) em relação ao próprio inimigo, entender de que matéria somos todos feitos e, portanto, perdoar. O que pode acontecer se, por um milagre da história, no Oriente Próximo, os dois povos há décadas em luta, de uma só vez, começassem a pensar uns no sofrimento dos outros, a apiedar-se uns dos outros. Não seria mais necessário nenhum muro de divisão entre eles. A mesma coisa deve-se dizer de tantos outros conflitos em ação no mundo, compreendidos aqueles entre as diversas confissões religiosas e igrejas cristãs.

      Quanta verdade no verso do nosso Pascoli: «Homens, paz! Na extensa terra grande é o mistério» [11]. Um comum destino de morte incumbe sobre todos. A humanidade é envolvida por tanta obscuridade e inclinada («prona») sob tanto sofrimento que deveríamos ter também um pouco de compaixão e de solidariedade uns pelos outros!

    . O dever de amar

      Há um outro ensinamento que nos vem do amor de Deus manifestado na cruz de Cristo. O amor de Deus pelo homem é fiel eternamente: «Eu te amei com amor eterno», diz Deus ao homem nos profetas (Jr 31, 3), e ainda: «Em minha lealdade não falharei» (Sl 89,34). Deus uniu-se para amar para sempre, privou-se da liberdade de voltar atrás. É este o sentido profundo da aliança que em Cristo tornou-se «nova e eterna».

      Na encíclica papal, lemos: «Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para suas íntimas purificações, que ele procure agora o caráter definitivo, e isso em um duplo sentido: no sentido da exclusividade – “apenas esta única pessoa” – e no sentido de ser “para sempre”. A amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem poderia ser de outro modo, porque sua promessa visa o definitivo: o amor visa a eternidade». [12]

      Em nossa sociedade, questiona-se cada vez com maior freqüência que relação pode haver entre o amor de dois jovens e a lei do matrimônio; que necessidade de «vincular-se» tem o amor, que é todo impulso e espontaneidade. Assim são sempre mais numerosos aqueles que rejeitam a instituição do matrimônio e escolhem o assim chamado amor livre ou a simples convivência de fato. Só se se descobre a profunda e vital relação que há entre lei e amor, entre decisão e instituição, pode-se responder concretamente àquela pergunta e dar aos jovens um motivo convincente para «unir-se» e amar para sempre e não ter medo de fazer do amor um «dever».

      «Portanto, quando há o dever de amar, --escreveu o filósofo que, depois de Platão, escreveu as coisas mais belas sobre o amor, Kierkegaard--, agora somente o amor é garantido para sempre contra toda alteração; eternamente livre em santa independência; assegurado em eterna santidade contra todo desespero» [13]. O sentido destas palavras é que a pessoa que ama, quanto mais ama intensamente, mais percebe com angústia o perigo que corre seu amor. Perigo que não vem dos outros, mas dela mesma. Essa sabe bem, de fato, ser volúvel e que amanhã, querendo ou não, pode já estancar-se e não amar mais ou mudar o objeto de seu amor. É já que, agora que está nela a luz do amor, vê com clareza qual perda irreparável isto comporta, eis que se previne «unindo-se» para amar com o vinculo do dever e ancorando, deste modo, à eternidade seu ato de amor posto no tempo.

      Ulisses queria chegar a rever sua pátria e sua esposa, mas devia passar através do local das sereias que os navegantes encontravam com seu canto e os levavam a bater contra os recifes. É um mito, mas ajuda a entender o porquê, ainda que humano e existencial, do matrimônio «indissolúvel» e, sobre um plano diverso, dos votos religiosos.

      O dever de amar protege o amor do «desespero» e o torna «santo e independente», no sentido que protege do desespero de não poder amar para sempre. Dai-me um verdadeiro apaixonado --dizia o mesmo pensador-- e ele vos dirá se, em amor, há oposição entre prazer e dever; se o pensamento de «dever» amar por toda a vida traz ao amante medo e angústia, ou não muito mais alegria e felicidade total.

      Aparecendo um dia da Semana Santa à Beata Ângela da Foligno, Cristo lhe disse uma palavra que ficou célebre: «Não te amei por brincadeira!» [15]. Cristo não nos amou verdadeiramente por brincadeira. Há uma dimensão lúdica e jocosa no amor, mas ele mesmo não é um jogo; é a coisa mais séria e mais cheia de conseqüências que existe no mundo; a vida humana depende dele. Ésquilo compara o amor a um leãozinho que se cria em casa, «antes dócil e terno mais que uma criança», com o qual se pode até brincar, mas que, crescendo, é capaz de fazer estrago e encher a casa de sangue. [16]

      Estas consideração não bastarão para mudar a cultura existente que exalta a liberdade de mudar e a espontaneidade do momento, a prática do «usar e jogar fora» aplicada também ao amor. (Encarregar-se-á, lamentavelmente, a vida de fazê-lo, quando ao fim se encontrar com as cinzas nas mãos e a tristeza de não ter construído nada de duradouro com o próprio amor). Mas que, pelo menos sirvam, estas considerações, para confirmar a bondade e a beleza da própria escolha àqueles que decidiram viver o amor entre o homem e a mulher segundo o projeto de Deus, e sirvam para animar muitos jovens a fazer a mesma escolha.

      Não nos resta outra coisa senão entoar com Paulo o hino ao amor vitorioso de Deus. Ele nos convida a fazer com ele uma maravilhosa experiência de cura interior. Pensa em todas as coisas negativas e nos momentos críticos de sua vida: a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada. Contempla isso tudo à luz da certeza do amor de Deus e grita: «Mas em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!».

      Levanta então o olhar; desde sua vida pessoal passa a considerar o mundo que o circunda e o destino humano universal, e de novo a mesma jubilosa certeza: «Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida..., nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rm 8, 37-39).

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Poder da cruz de Cristo



“De fato, Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o evangelho – sem sabedoria de palavras, para não esvaziar a força da cruz de Cristo. A pregação da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que são salvos, para nós, ela é a força de Deus” (1 Cor 1,17.18).
A crucificação já existia antes do poderoso Império Romano. Tem a sua origem na Pérsia. No império romano, em principio era reservado as classes baixas, os escravos e os estrangeiros. Em todo domínio do Império a crucificação era praticada com grande crueldade e requinte de perversidade. Para os nobres e intelectuais romanos a crucificação era considerada uma punição terrível, escandalosa e bárbara, da qual se devia evitar até ouvir e falar sobre ela.
Para o grande político e o maior orador romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) falou dessa punição horrorosa. Disse ele: “Era a mais cruel e revoltante penalidade, que devia ser reservada só para os escravos, e em último caso”. “A própria palavra cruz, devia não apenas ficar longe do corpo de um cidadão romano, mas também de seus pensamentos, de seus olhos e seus ouvidos”, escreveu o autor das famosas catilinárias. Para o cidadão romano ou estrangeiro que tinha a cidadania romana, a pena capital era a decapitação pelo golpe de espada romana.
Os dois primeiros apóstolos mártires de Roma: São Pedro e São Paulo. O primeiro foi crucificado de cabeça para baixo, que também era costume e o segundo pela sua cidadania romana foi decapitado.
A MENSAGEM DA CRUZ
“Quem não procura a cruz de Cristo, não procura a glória de Cristo”. São João da Cruz , Sacerdote e Doutor da Igreja
A cruz é a expressão monumental do triunfo do glorioso cristianismo e o logotipo da santíssima fé vitoriosa. A cruz é o marco central do amor da redenção humana pela graça do bom Deus. A mensagem mais poderosa do mundo é a proclamação da cruz de Cristo. É o maior escândalo e a maior loucura para os incrédulos.
A verdadeira pregação do evangelho é centralizada no Cristo crucificado e ressuscitado (1 Cor. 2,2; At 2,23.24).  A cruz e o símbolo mais importante e conhecido do cristianismo. Assim professamos no Credo Apostólico: “Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”.
De tantos crucificados numa terra pobre, miserável, conturbada, cheia de conflitos políticos e religiosos, tão distantes da capital do Império Romano, porque um crucificado causou tanta agitação para as autoridades judaicas e romanas? A resposta foi registrada pelo apóstolo São Mateus: “O centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o terremoto e tudo mais que estava acontecendo ficaram muito amedrontados e disseram: De fato, este era o filho de Deus!” (Mt 27,54).
De todos os crucificados na Palestina, o Filho de Deus é o mais famoso de todos até o dia de hoje. A sua missão na cruz foi para salvar a humanidade e para que, em nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: “Jesus Cristo é o Senhor” para a glória de Deus Pai (Fl 2,10.11).
A sua cruz foi fincada no monte do calvário na Palestina e sua ressurreição para o Universo. Jesus é a personalidade mais famosa do mundo, seja: na arte, na literatura, no cinema, no teatro e na internet. O Servo foi crucificado e ressuscitado como Senhor e Deus (Jo 20,28). Ele foi o Cordeiro imolado e humilhado para ser Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16).
O SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO
Mas o anjo, respondendo, disse as mulheres: “ Não tenhais medo, pois eu sei que buscai a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque já ressuscitou. ( Mateus 28, 5.6) No primeiro dia da semana, algumas mulheres piedosas madrugaram para ir ao sepulcro do Senhor Jesus. Buscavam o crucificado, Mas não acharam o corpo dele, encontraram um anjo que lhes deu essa magnífica notícia: “Ele não está aqui, porque já ressuscitou”. Que grande significado estas palavras tem!
Já ressuscitou – Ele vive! Aquele que por amor a nós foi para a cruz e cumpriu a obra infinitamente penosa da salvação agora está vivo. Vivo para nunca mais morrer, depois de haver ressuscitado, subiu aos céus, a esfera espiritual da qual ele cuida de nós. Temos um Senhor vivo e glorificado, a quem podemos seguir, servir e adorar e que nos ama.
Já ressuscitou – Ele venceu! Por meio da obediência de seu Filho até a morte, Deus foi glorificado.
Jesus satisfez todas as exigências do santo e justo Deus. Tudo esta cumprido, por isso o Deus o ressuscitou. No Gólgata, o Cristo venceu o pecado, a morte, o diabo e o mundo.
Já ressuscitou – Ele nos fez participantes da sua vitória! “Quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá; e todo aquele que crê em mim nunca morrerá” (João 11, 25-26). Somos filhos de Deus estamos unidos ao Cristo vivo. A vida dEle é nossa vida. O Deus dele é nosso Deus. O Pai dele é nosso Pai. Portanto “se nós somos filhos, logo somos herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ((Romanos 8,17).
A ressurreição do Senhor Jesus é parte do fundamento da fé cristã. Os Evangelhos apresentam o relato histórico desse fato. O livro de Atos dá testemunho desse acontecimento; nas Epístolas encontramos o significado e as conseqüências dela.
O significado da ressurreição de Cristo está enfatizado em Romanos 4,25: “O qual nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa salvação”. Cristo morreu na cruz em nosso lugar. Ali Deus o castigou por nossos pecados e pelos seus também, querido leitor.
Mas, somente a partir da ressurreição sabemos que Deus aceitou o sacrifício do nosso substituto. A ressurreição nos confere a plena segurança da nossa fé e da salvação. Deus foi infinitamente glorificado pela obra de seu filho, e como demonstração de sua aprovação o ressuscitou. Em virtude disto sabemos que o sacrifício de Cristo foi aceito. Com toda tranqüilidade podemos descansar nessa certeza. Ele também é à base de nossa confiança em Deus e em sua Palavra. Nossa esperança no por porvir está igualmente ligada a ressurreição, porque o Cristo ressuscitou é chamado de “as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15,20).
Por assim dizer, ele é o primeiro fruto de uma colheita que abrange todos os redimidos que morreram e ainda morrerão.
Eles ressuscitarão com um corpo glorificado quando o Senhor vier para arrebatar aos seus. Até “lá, vivamos de maneira que o agrade e honre o bom nome que sobrevós foi invocado.” (Tiago, 2,7).
CONCLUSÃO
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo por sua morte e ressurreição venceu definitivamente o pecado, o império da morte e todo o sistema diabólico.
Pelo Senhor Jesus, pela sua Vitória, nos somos vitoriosos também: Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está a mão direita de Deus Pai, é que intercede por nós!… Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou (Romanos 8,34,37).
O maior presente que o bom Deus podia ter nos dado, Ele nos deu, enviando ao mundo SEU FILHO JESUS. E, por Jesus, nós podemos chamar a esse DEUS de PAI.
“Enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que chama: Abra, Pai! De modo que já não és mais escravo, mas filho. E se és filho és também herdeiro da graça de DEUS” (Gl 4,6.7).
A ressurreição de Cristo foi o maior acontecimento de transformação na história da humanidade Foi o único que tem todo o poder de mudar a vida de milhares de pessoas que estão “mortas” pelos delitos e pecados, com suas mentes e corpos escravizados pelos vícios. A única solução para estas pessoas é o arrependimento de suas ofensas contra Deus e a purificação de suas almas pelo sangue de Jesus Cristo, por meio de uma verdadeira conversão ao Cristo Redentor.
Daí viver sempre em comunhão com Cristo e na profunda experiência de seu eterno amor. Estudando sempre a Sagrada Escritura, fiel a Eucaristia e na caminhada eclesial.
Ele disse: “Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 18,20).
Ele vive e reina. Ele é louvado, adorado e glorificado em nossos corações por nosso testemunho para sempre.

* Papa João Paulo II saiu 115 vezes “às escondidas” do Vaticano para esquiar em seus dias de folga.



João Paulo II saiu às escondidas do Vaticano para esquiar em 115 ocasiões durante seus 27 anos de pontificado e visitou diversos pontos da Itália, revelou Claudio Paganini, conselheiro espiritual do Centro Esportivo Italiano.
A reportagem é da Agência Efe, 26-04-2011. A tradução é do Cepat.
Em entrevista para a Notimex, o sacerdote assegurou que não obstante fosse Papa, às terças-feiras escapava secretamente do Vaticano e ia esquiar em diversas estâncias dos Apeninos Centrais em Los Abruzzos, nos Dardamelos ou nos Alpes.
A paixão pelo esqui do futuro beato foi confirmada por um de seus colaboradores mais próximos, Joaquín  Navarro Valls, histórico porta-voz e diretor da sala de imprensa vaticana.
“Agora se pode dizer: às vezes, nas terças-feiras, que continua sendo o único dia da semana no qual o Papa não recebe pessoas e que é usado para escrever e ler documentos, se saía e com um carro se ia esquiar por três ou quatro horas”, disse em entrevista ao canal de televisão Rai 1.
“Em silêncio se saía e se atravessava Roma. Imagina, às seis da tarde como é o tráfico romano. Minha insegurança: seguramente alguém descobre o Papa neste carro. Era um carro anônimo, sem a identificação do Vaticano, mas nunca ninguém o reconheceu”, disse.
O amor de João Paulo II pela neve e pela montanha ficou gravado no centro de esqui Campo Felice, na região italiana de Los Abruzzos, a cerca de 200 quilômetros a leste de Roma, onde atualmente uma pista leva seu nome.
Segundo Paganini, o Karol Wojtyla deixou claro que não se pode eliminar a fé e a cultura do esporte, nem deixar a espiritualidade de lado na hora dos esportes.
Recordou que desde a sua juventude caminhava, andava de bicicleta, jogava vôlei e praticava caiaque, mas gostava muito de esquiar.
“Um homem que sabe viver como João Paulo II a fé, os valores e o esporte faz compreender que o esporte é um ingrediente importante para a formação. O homem de hoje se realiza quando une a atividade física à oração, ao estudo e à cultura”, indicou.
“Não surpreende que um Papa tenha tempo para fazer isto, pensamos que quem produz e ganha dinheiro é importante, absolutamente não. Wojtyla nos ensinou que ter tempo para si mesmo, para praticar esporte, é fundamental para a santidade”, considerou.
Para Claudio Paganini, atualmente o esporte deve aprender que um código de ética não tem muito sentido, que é necessário formar a pessoa globalmente porque um homem bem formado vive o esporte corretamente, mas se carece de valores não pode ser honesto.
Como homenagem ao “Papa peregrino”, o Centro Esportivo Italiano decidiu nomeá-lo “capitão” da edição 2011 da Clericus Cup, a “Copa do Mundo” de futebol exclusiva para seminaristas e sacerdotes, organizada por essa associação com o aval do Vaticano.
Também em entrevista, Kevin Lixey, responsável pelo Escritório Igreja e Esportesda Sé Apostólica, disse que João Paulo II será um beato esportista.
“O mesmo foi um grande esportista, um beato pode fazer esportes, ele mesmo beatificou Pier Giorgio Frassati que escalava montanhas, esquiava; isto é importante para que os jovens saibam que também o tempo livre pode ser um espaço de santidade”, apontou.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Urbi et orbis: Caminharmos fiéis com o Ressuscitado

uma Páscoa feliz com Cristo Ressuscitado”.

Estes os votos de boas festas pascais do Papa, a todas as pessoas de língua portuguesa, falando da varanda central da basílica de São Pedro, neste domingo de Páscoa 2011, após a mensagem “Urbi et Orbi”, à Cidade de Roma e a todo o mundo. Uma mensagem em que Bento XVI partiu de uma antífona da Liturgia das Horas: “Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra”. “A manhã de Páscoa – observou - trouxe-nos este anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! Continua a ressoar na Igreja o eco deste acontecimento, que partiu de Jerusalém há vinte séculos”.


“Até hoje – mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas – a fé dos cristãos assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e daqueles irmãos que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria de Magdala, aos dois discípulos de Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo”. Não se trata de uma especulação, nem sequer de uma experiência mística – observou o Papa. A ressurreição de Cristo é um acontecimento concreto, que deixa uma marca indelével.

“A ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística: é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se num momento concreto da história e deixa nela uma marca indelével. A luz, que encandeou os guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus, atravessou o tempo e o espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem.”

“Tal como os raios do sol, na primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradiação que dimana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo, projecto…”. O próprio cosmos está chamado a aclamar o Ressuscitado, a entoar o aleluia pascal…

“…hoje, o universo inteiro se alegra, implicado na primavera da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da criação. O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa do universo e sobretudo o anseio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus, mais ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e verdade.”

Este hino cósmico que é também o hino pascal da Igreja inteira, é o hino de louvor dos anjos e santos, nos céus…

“No Céu, tudo é paz e alegria. Mas, infelizmente, não é assim sobre a terra! Aqui, neste nosso mundo, o aleluia pascal contrasta ainda com os lamentos e gritos que provêm de tantas situações dolorosas: miséria, fome, doenças, guerras, violências. E todavia foi por isto mesmo que Cristo morreu e ressuscitou!”

Cristo – sublinhou Bento XVI – “morreu também por causa dos nossos pecados de hoje. Foi também para a redenção da nossa história de hoje que Ele ressuscitou”. Por isso, esta mensagem pascal “quer chegar a todos e, como anúncio profético, sobretudo aos povos e às comunidades que estão a sofrer uma hora de paixão, para que Cristo Ressuscitado lhes abra o caminho da liberdade, da justiça e da paz”. E aqui o Papa referiu expressamente a Líbia, os países da África do Norte e médio Oriente, os tantos prófugos e refugiados, a Costa do Marfim, o Japão… começando precisamente pelo Médio Oriente, a terra de Jesus…

“Possa alegrar-se aquela Terra que, primeiro, foi inundada pela luz do Ressuscitado. O fulgor de Cristo chegue também aos povos do Médio Oriente para que a luz da paz e da dignidade humana vença as trevas da divisão, do ódio e das violências.

“Na Líbia, que as armas cedam o lugar à diplomacia e ao diálogo e se favoreça, na situação atual de conflito, o acesso das ajudas humanitárias a quantos sofrem as conseqüências da luta.

“Nos países da África do Norte e do Médio Oriente, que todos os cidadãos – e de modo particular os jovens – se esforcem por promover o bem comum e construir um sociedade, onde a pobreza seja vencida e cada decisão política seja inspirada pelo respeito da pessoa humana.

“A tantos prófugos e aos refugiados, que provem de diversos países africanos e se vêem forçados a deixar os afetos dos seus entes mais queridos, chegue a solidariedade de todos; os homens de boa vontade sintam-se inspirados a abrir o coração ao acolhimento, para se torne possível, de maneira solidária e concorde, acudir às necessidades existentes de tantos irmãos; a quantos se prodigalizam com generosos esforços e dão exemplares testemunhos nesta linha chegue o nosso conforto e apreço.

“Possa recompor-se a convivência civil entre as populações da Costa do Marfim, onde é urgente empreender um caminho de reconciliação e perdão, para curar as feridas profundas causadas pelas recentes violências.

“Possa encontrar consolação e esperança a terra do Japão, enquanto enfrenta as dramáticas conseqüências do recente terremoto, e demais países que, nos meses passados, foram provados por calamidades naturais que semearam sofrimento e angústia.

“Alegrem-se os céus e a terra pelo testemunho de quantos sofrem contrariedades ou mesmo perseguições pela sua fé no Senhor Jesus” – acrescentou ainda o Papa, quase a concluir a sua mensagem pascal. Que “o anúncio da sua ressurreição vitoriosa neles infunda coragem e confiança”.
“Cristo ressuscitado caminha à nossa frente para os novos céus e a nova terra, onde finalmente viveremos todos como uma única família, filhos do mesmo Pai. Ele está conosco até ao fim dos tempos. Sigamos as suas pegadas, neste mundo ferido, cantando o aleluia.”

“No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco. Por isso, cantamos e caminhamos, fiéis ao nosso compromisso neste mundo, com o olhar voltado para o Céu. Boa Páscoa a todos!”

Um só Deus com o Pai, um só Homem com o homem

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Afirma Santo Agostinho: “Deus não poderia conceder dom maior aos homens do que dar-lhes como Cabeça a sua Palavra, pela qual criou todas as coisas, e a ela uni-los como membros para que o Filho de Deus fosse também filho do homem, um só Deus com o Pai, um só homem com os homens. Por conseguinte, quando dirigimos a Deus nossas súplicas, não separemos dele o Filho; e, quando o Corpo do Filho orar, não separe de si sua Cabeça. Deste modo, o único salvador de seu corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração.
Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe nossa oração como nosso Deus. Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua voz” (Comentário sobre os Salmos, Sl 85,1).
Quando me ponho a matutar por que, afinal, temos tanta dificuldade de perceber essa união nossa com Jesus e Dele conosco, só me vem uma resposta: falta de oração, falta de vida interior, falta de ‘atenção ao interior’.
Na correria de nossas vidas, traçamos planos e itinerários para tudo: o melhor caminho a tomar, a estrada melhor e mais curta, o melhor local para reabastecer. Usamos o GPS para nos indicar caminhos e nos informar se estamos ou não no rumo do nosso alvo. Contudo, frequentemente nos esquecemos de traçar planos e sendas para nossa vida espiritual.
Deixamos de cumprir nossos horários de oração e nossa vida interior se resume às apressadas preces do acordar e dormir. Rezamos o terço enquanto fazemos outra coisa, considerando, com certa razão, que é melhor que nada. Eucaristia durante a semana? Bem, se tiver uma missa de 7º dia, de casamento, de bodas, pode ser que eu vá.
Enquanto prosseguimos em nossa negligência, Jesus Cristo, ora por nós como sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e esposo; recebe nossa oração como nosso Deus. Nossa voz é sua voz, sua voz é nossa voz.
Veja: o caminho de Deus para nós é sempre cumprido. Jesus ora por nós e em nós constantemente, quer oremos ou não. O que falta, infelizmente, é o caminho contrário: partindo de nós para aquele que recebe nossa oração como nosso Deus.
Certa feita, a inscrição da parte central da basílica de São Pedro mudou minha vida, como se eu jamais a tivesse visto antes: “Pedro, Satanás pediu para joeirar-te como o trigo, eu porém orei por ti, para que não desfalecesses na tua fé.” Foi como se um raio me atingisse e eu pudesse perceber que Jesus, de fato, intercede por mim, pessoalmente. O mesmo acontece com você. Jesus, o Senhor, o Filho de Deus, o Esposo, ora em você e por você.
Tudo o que você tem que fazer é: primeiro, ler e rezar com a Palavra para que ela seja seu “GPS” na vida espiritual. A Palavra, como vimos em Santo Agostinho, é o próprio Cristo. Ela nos conduzirá segundo a sua vontade. Junto a isso, prestar atenção ao seu interior, ao que Deus diz e faz em seu interior. Ao escutar, com atenção, o que Jesus diz em seu interior, responder-lhe, com simplicidade, com suas próprias palavras sem ostentação, nem que seja somente para dizer o que mais agrada ao Senhor: “Jesus, eu te amo!”

* Veja íntegra das respostas do Papa na histórica entrevista realizada pela TV italiana.

O Papa Bento XVI fez história esta Sexta-feira Santa ao aparecer pela primeira vez em um programa televisivo -o show “A Sua Imagem”, que se transmite na estação italiana RAI1- e responder sete perguntas pré-gravadas vindas de todo o mundo e referidas ao medo, a dor, o estado de coma, a perseguição de cristãos, a ressurreição e a Virgem Maria.
A seguir, a íntegra das respostas do Papa Bento:
P: Santo Padre, quero agradecer-lhe pela sua presença que nos enche de alegria e nos ajuda a recordar que hoje é o dia em que Jesus demonstra Seu amor no modo mais radical, morrendo na cruz como inocente. Precisamente sobre o tema da dor inocente é a primeira pergunta que vem de uma menina japonesa de sete anos, que lhe diz: meu nome é Elena, sou japonesa e tenho sete anos. Tenho muito medo porque a casa em que me sentia segura tremeu muitíssimo, e porque muitas crianças da minha idade morreram. Não posso ir brincar no parque. Quero perguntar-lhe: por que tenho que passar tanto medo? Por que as crianças têm que sofrer tanta tristeza? Peço ao Papa, que fala com Deus, que me explique isso.
R: Querida Elena, eu a saúdo com todo o coração. Também eu me pergunto: por que é assim? Por que vós tendes que sofrer tanto, enquanto outros vivem comodamente? E não temos resposta, mas sabemos que Jesus sofreu como vós, inocentes, que Deus verdadeiro se mostra em Jesus, Ele está ao seu lado. Isto me parece muito importante, apesar de que não temos respostas, se a tristeza seguir: Deus está ao seu lado, e devemos estar seguros de que isto os ajudará. E um dia poderemos compreender por que aconteceu isto. Neste momento me parece importante que você saiba Deus me ama, embora pareça que não me conhece. Não, Ele me ama, está a meu lado, e devemos estar seguros de que no mundo, no universo, há tantas pessoas que estão a seu lado, que pensam em vós, que fazem todo o possível por vocês, para ajudá-los. E ser conscientes de que, um dia, eu compreenderei que este sofrimento não era uma coisa vazia, não era inútil, mas atrás do sofrimento há um projeto bom, um projeto de amor. Não é ! uma coincidência. Sinta-se segura, estamos a seu lado, ao lado de todas as crianças japoneses que sofrem, queremos ajudá-las com a oração, com nossos atos, e devem estar seguros de que Deus os ajuda. E deste modo rezamos juntos para que a luz chegue a vocês o quanto antes.
P: A segunda pergunta nos põe diante de um calvário, porque se trata de uma mãe que está junto à cruz de um filho. É italiana, chama-se Maria Teresa e lhe pergunta: Santidade, a alma de meu filho, Francesco, em estado vegetativo desde o dia de Páscoa do 2009, abandonou seu corpo, visto que está totalmente inconsciente, ou ainda está nele?
R: Certamente a alma está ainda presente no corpo. A situação é um pouco como a de um violão que tem as cordas partidas e que não se pode tocar. Assim também o instrumento do corpo é frágil, vulnerável, e a alma não pode tocar, para dizê-lo de algum modo, mas segue presente. Estou também seguro de que esta alma escondida sente em profundidade seu amor, apesar de que não compreende os detalhes, as palavras, etc., mas sente a presença do amor. E por isso esta sua presença, queridos pais, querida mãe, junto a ele, horas e horas cada dia, é um verdadeiro ato de amor muito valioso, porque esta presença entra na profundidade desta alma escondida e seu ato é um testemunho de fé em Deus, de fé no homem, de fé, digamos de compromisso a favor da vida, de respeito pela vida humana, inclusive nas situações mais trágicas. Por isso os animo a prosseguir, sabendo o que fazem um grande serviço à humanidade com este sinal de confiança, com este sinal de respeito da vida, com este amor por um! corpo lacerado, uma alma que sofre.
P: A terceira pergunta nos leva ao Iraque, entre os jovens de Bagdá, cristãos perseguidos que lhe enviam esta pergunta: Saudamos o Santo padre desde o Iraque –dizem-. Nós, cristãos de Bagdá somos perseguidos como Jesus. Santo Padre, de que modo podemos ajudar a nossa comunidade cristã para que reconsiderem o desejo de emigrar a outros países, convencendo-lhes de que partir não é a única solução?
R: Queria em primeiro lugar saudar com todo o coração a todos os cristãos do Iraque, nossos irmãos, e tenho que dizer que rezo cada dia pelos cristãos do Iraque. São nossos irmãos que sofrem, como também em outras terras do mundo, e por isso os sinto especialmente próximos a meu coração e, na medida de nossas possibilidades, temos que fazer todo o possível para que possam resistir à tentação de emigrar, que –nas condições nas que vivem- resulta muito compreensível. Diria que é importante que estejamos perto de vós, queridos irmãos do Iraque, que queiramos ajudá-los e quando vierem, recebê-los realmente como irmãos. E naturalmente, as instituições, todos os que têm uma possibilidade de fazer algo pelo Iraque, devem fazê-lo. A Santa Sé está em permanente contato com as distintas comunidades, não só com as comunidades católicas, mas também com as demais comunidades cristãs, com os irmãos muçulmanos, sejam xiitas ou sunitas. E queremos fazer um trabalho de reconciliação, de! compreensão, também com o governo, ajudá-lo neste difícil caminho de recompor uma sociedade rasgada. Porque este é o problema, que a sociedade está profundamente dividida, lacerada, já não têm esta consciência: Nós somos na diversidade, um povo com uma história comum, no qual cada um tem seu lugar. E devem reconstruir esta consciência que, na diversidade, têm uma história comum, uma comum determinação. E nós queremos, em diálogo precisamente com os distintos grupos, ajudar o processo de reconstrução e animar a vós, queridos irmãos cristãos do Iraque, a ter confiança, a ter paciência, a ter confiança em Deus, a colaborar neste difícil processo. Tenham a segurança de nossa oração.
P: A seguinte pergunta é de uma mulher muçulmana da Costa do Marfim, um país em guerra há anos. Esta senhora se chama Bintú e lhe envia uma saudação em árabe que pode ser traduzida deste modo: Que Deus esteja em meio de todas as palavras que nos diremos e que Deus esteja contigo. É uma frase que utilizam ao começar um diálogo. E depois prossegue em francês: Querido Santo Padre, aqui na Costa do Marfim vivemos sempre em harmonia entre cristãos e muçulmanos. Freqüentemente as famílias estão formadas por membros de ambas as religiões; existe também uma diversidade de etnias, mas nunca tivemos problemas. Agora tudo mudou: a crise que vivemos, causada pela política, esta semeando divisões. Quantos inocentes perderam a vida! Quantos prófugos, quantas mães e quantas crianças traumatizados! Os mensageiros exortaram à paz, os profetas exortaram à paz. Jesus é um homem de paz. Você, como embaixador de Jesus, o que aconselharia a nosso país?
R: Quero responder à saudação: que Deus esteja também contigo, e sempre te ajude. E tenho que dizer que recebi cartas dilaceradoras da Costa do Marfim, onde vejo toda a tristeza, a profundidade do sofrimento, e fico triste porque podemos fazer tão pouco. Sempre podemos fazer uma coisa: orar com vós, e na medida do possível, fazer obras de caridade, e sobre tudo queremos colaborar, segundo nossas possibilidades, nos contatos políticos, humanos. Encarreguei que o cardeal Tuckson, que é presidente do nosso Conselho de Justiça e Paz, fosse a Costa do Marfim e tente mediar, falar com os diversos grupos, com as distintas pessoas, para facilitar um novo começo. E sobre tudo queremos fazer ouvir a voz de Jesus, em quem você também acredita como profeta. Era sempre o homem da paz. Podia pensar-se que, quando Deus veio à terra, fá-lo-ia como um homem de grande força, que destruiria as potências adversárias, que seria um homem de uma forte violência como instrumento de paz. Nada disto:! veio débil, veio sozinho com a força do amor, totalmente sem violência até ir à cruz. E isto nos mostra o verdadeiro rosto de Deus, e que a violência não vem nunca de Deus, nunca ajuda a produzir coisas boas, mas é um meio destrutivo e não é o caminho para sair das dificuldades. É uma forte voz contra todo tipo de violência. Convido fortemente a todas as partes a renunciar à violência, a procurar as vias da paz. Para a recomposição de seu povo não podem usar meios violentos, embora pensem ter razão. A única via é a renúncia à violência, recomeçar o diálogo, as tentativas de encontrar juntos a paz, uma nova atenção dos uns para os outros, a nova disponibilidade abrir-se o um ao outro. E este, querida senhora, é a verdadeira mensagem de Jesus: procurem a paz com os meios da paz e abandonem a violência. Rezamos por vós para que todos os componentes de sua sociedade sintam esta voz de Jesus e assim retorne a paz e a comunhão.
P: Santo Padre, a próxima pergunta é sobre o tema da morte e a ressurreição de Jesus e chega da Itália. Eu a leio: Santidade: Que fez Jesus no lapso de tempo entre a morte e a ressurreição? E, já que no Credo se diz que Jesus depois da morte descendeu aos infernos: Podemos pensar que é algo que nos passará também , depois da morte, antes de subir ao Céu?
R: Em primeiro lugar, esta descida da alma de Jesus não deve imaginar-se como uma viagem geográfica, local, de um continente a outro. É uma viagem da alma. É preciso ter em conta que a alma de Jesus sempre toca a do Pai, está sempre em contato com o Padre, mas ao mesmo tempo, esta alma humana se estende até os últimos limites do ser humano. Neste sentido desce às profundidades, vai rumo ao perdidos, dirige-se a todos aqueles que não alcançaram a meta de suas vidas, e transcende assim os continentes do passado. Esta palavra da descida do Senhor aos infernos significa, sobre tudo, que Jesus alcança também o passado, que a eficácia da redenção não começa no ano zero ou no ano trinta, mas sim se estende ao passado, abrange o passado, a todas as pessoas de todos os tempos. Dizem os Padres, com uma imagem muito formosa, que Jesus toma pela mão Adão e Eva, quer dizer a humanidade, e a encaminha para frente, para as alturas. E assim cria o acesso a Deus, porque o homem, por si mesmo! , não pode elevar-se à altura de Deus. Jesus mesmo, sendo um homem, tomando o homem pela mão, abre o acesso. Que acesso? À realidade que chamamos céu. Assim, este descida aos infernos, quer dizer, nas profundidades do ser humano, nas profundidades do passado da humanidade, é uma parte essencial da missão de Jesus, de sua missão de Redentor e não se aplica a nós. Nossa vida é diferente, o Senhor já nos redimiu e nos apresentamos ao Juiz, depois de nossa morte, sob o olhar de Jesus, e este olhar em parte será purificador: acredito que todos nós, em maior ou menor medida, precisaremos ser purificados. O olhar de Jesus nos purifica e ademais nos torna capazes de viver com Deus, de viver com os Santos, sobre tudo de viver em comunhão com nossos seres queridos que nos precederam.
P: Também a seguinte pergunta é sobre o tema da ressurreição e vem da Itália: Santidade, quando as mulheres chegam ao sepulcro, no domingo depois da morte de Jesus, não reconhecem o Mestre, confundem-no com outro. O mesmo acontece com os Apóstolos: Jesus tem que mostrar as feridas, partir o pão para que o reconheçam precisamente por seus gestos. O seu é um corpo real de carne e osso, mas também um corpo glorioso. O fato de que seu corpo ressuscitado não tenha as mesmas características que antes, o que significa? E o que significa, exatamente, corpo glorioso? E a ressurreição, será também assim para nós? ”
R: Naturalmente, não podemos definir o corpo glorioso porque está além de nossa experiência. Só podemos interpretar alguns dos sinais que Jesus nos deu para entender, ao menos um pouco, aonde aponta esta realidade. O primeiro sinal: o sepulcro está vazio. Quer dizer, Jesus não abandonou seu corpo à corrupção, ensinou-nos que também a matéria está destinada à eternidade, que ressuscitou realmente, que não ficou perdido. Jesus assumiu também a matéria, por isso a matéria está também destinada à eternidade. Mas assumiu esta matéria em uma nova forma de vida, este é o segundo ponto: Jesus não morre mais, quer dizer: está além das leis da biologia, da física, porque os submetidos a elas morrem. Portanto há uma condição nova, diversa, que não conhecemos, mas que se revela no ocorrido a Jesus, e essa é a grande promessa para todos nós de que há um mundo novo, uma nova vida, para a qual estamos encaminhados. E, estando já nessa condição, para Jesus é possível que os outros o toquem,! pode dar a mão a seus amigos e comer com eles, mas, entretanto está além das condições da vida biológica, como a que nós vivemos. E sabemos que, por uma parte, é um homem real, não um fantasma, vive uma vida real, mas é uma vida nova que já não está sujeita à morte e essa é nossa grande promessa. É importante entender isto, ao menos o que nos seja possível, com o exemplo da Eucaristia: na Eucaristia, o Senhor nos dá seu corpo glorioso, não nos dá carne para comer em sentido biológico; nos dá Ele mesmo; quão novo é Ele , entra em nosso ser homens e mulheres, no nosso, em meu ser pessoa, como pessoa e chega a nós com seu ser, de modo que podemos nos deixar penetrar por sua presença, transformar-nos em sua presença. É um ponto importante, porque assim já estamos em contato com esta nova vida, este novo tipo de vida, já que Ele entrou em mim, e eu saí de mim e me estendo para uma nova dimensão de vida. Penso que este aspecto da promessa, da realidade que Ele se entrega para mi! m e me faz sair de mim mesmo, me eleva, seja a questão mais im! portante : não se trata de decifrar coisas que não podemos entender mas de encaminhar-nos para a novidade que começa, sempre, de novo, na Eucaristia.
P: Santo Padre, a última pergunta é sobre Maria. Aos pés da cruz, há um comovedor diálogo entre Jesus, sua mãe e João, no que Jesus diz a Maria: Eis aqui o teu filho e a João: Eis a tua mãe. Em seu último livro, “Jesus de Nazaré”, você o define como uma disposição final de Jesus. Como devemos entender estas palavras? O que significado tinham naquele momento e que significado têm hoje em dia? E já que estamos no tema de confiar.  Você pensa renovar uma consagração à Virgem no início deste novo milênio?
R: Estas palavras de Jesus são acima de tudo um ato muito humano. Vemos Jesus como um homem verdadeiro que leva adiante um gesto de verdadeiro homem: um ato de amor por sua mãe confiando-a ao jovem João para que esteja segura. Naquela época no Oriente uma mulher sozinha se encontrava em uma situação impossível. Confia sua mãe a este jovem e lhe confia sua mãe. Jesus realmente atua como um homem com um sentimento profundamente humano. Parece-me muito formoso, muito importante que antes de qualquer teologia vejamos aqui a verdadeira humanidade, o verdadeiro humanismo de Jesus. Mas é obvio este gesto tem várias dimensões, não corresponde só a este momento: concerne a toda a história. Em João, Jesus confia a todos nós, a toda a Igreja, a todos os futuros discípulos a sua mãe e sua mãe a nós. E isto se cumpriu ao longo da história: a humanidade e os cristãos entenderam cada vez mais que a mãe de Jesus é sua mãe. “E cada vez mais pessoas se confiaram à sua Mãe: basta pensar nos gr! andes santuários, nesta devoção à Maria, onde cada vez mais o povo sente: Esta é a Mãe.” E inclusive alguns que quase têm dificuldade para chegar a Jesus em sua grandeza do Filho de Deus, confiam-se à Mãe sem dificuldade. Alguns dizem: Mas isso não tem fundamento bíblico. Aqui eu gostaria de responder com São Gregório Magno:  À medida que se lê – diz – crescem as palavras da Escritura.” Quer dizer, desenvolvem-se na realidade, crescem , e cada vez mais na história se difunde esta Palavra. Todos podemos estar agradecidos porque a Mãe é uma realidade, a todos deram uma mãe. E podemos nos dirigir com muita confiança a esta mãe, que para cada cristão é sua Mãe. Por outro lado a Mãe é também expressão da Igreja. Não podemos ser cristãos sozinhos, com um cristianismo construído segundo minhas idéias. A Mãe é imagem da Igreja, da Mãe Igreja e confiando-nos a Maria, também temos que confiar-nos à Igreja, viver a Igreja, ser Igreja com Maria. Chego agora ao tema da consagração:! os papas – Pio XII, Paulo VI e João Paulo II – fizeram um gra! nde ato de consagração à Virgem Maria e acredito que , como gesto ante a humanidade, diante de Maria mesmo, foi muito importante. Eu acredito que agora seja importante interiorizar esse ato, deixar que nos penetre, para realizá-lo em nós mesmos. Por isso visitei alguns dos grandes santuários marianos do mundo: Lourdes, Fátima, Czestochowa, Altötting , sempre com o fim de fazer concreto, de interiorizar esse ato de consagração, para que seja realmente nosso ato. Acredito que o ato grande, público, já foi feito. Talvez algum dia se deverá repeti-lo, mas no momento me parece mais importante vivê-lo, realizá-lo, entrar nesta consagração para fazê-la nossa verdadeiramente. Por exemplo, em Fátima, percebia como os milhares de pessoas presentes eram conscientes dessa consagração, confiaram-se, encarnando-a em si mesmos, para si mesmos. Assim essa consagração se faz realidade na Igreja viva e assim cresce também a Igreja. A entrega a Maria, que todos nos deixemos penetrar e formar por essa ! presença, o entrar em comunhão com Maria, faz-nos Igreja, faz-nos, junto com Maria, realmente esposa de Cristo. De modo que, pelo momento, não tenho intenção de uma nova consagração pública, mas sim gostaria de convidar a todos a incorporar-se a essa consagração que já está feita, para que a vivamos verdadeiramente dia após dia e cresça assim uma Igreja realmente Mariana que é Mãe e Esposa e Filha de Jesus.